Mauricio Cunha
para:
07/06/2011 10:33
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Nos últimos tempos ficou notória a mobilização da Igreja cristã em torno do polêmico projeto de lei 122, a chamada lei da “Homofobia”. Embora o projeto traga equívocos claros e mereça ser debatido, gostaria de aproveitar esta oportunidade para fazer uma análise crítica em relação ao posicionamento e a ação da igreja evangélica (falando aqui em termos genéricos) neste episódio.
Na minha visão, é lamentável que a Igreja, que há muito tempo tem ignorado a questão da homossexualidade, suas complexidades e implicações, esteja se manifestando de forma tão veemente acerca desta questão apenas quando um dos seus direitos (no caso, da livre expressão a partir da liberdade de consciência) é ameaçado. Desta forma, a Igreja age com qualquer outro grupo na defesa dos seus direitos, não representando nenhum diferencial na arena social.
É lícito, numa democracia, um grupo manifestar-se e procurar mobilizar a sociedade em defesa da sua visão de mundo e dos seus ideais. Mas é triste perceber que toda esta capacidade de mobilização da Igreja não se dá da mesma forma em temas–chave da Reforma social e da Justiça do Reino, como pobreza, violência, corrupção, gênero, etc. A verdade é que a Igreja evangélica continua obcecada pela sexualidade e os seus “pecados”. Como exemplo, cito o fato de que recentemente, estamos tendo a discussão sobre o novo Código Florestal Brasileiro, tema de fundamental importância relacionado à mordomia da Criação e ao futuro das próximas gerações, mas onde e de que forma está a igreja cristã se mobilizando?
Como conseqüência desta tendência, assistimos a uma polarização entre os evangélicos e os movimentos GLBTT e segmentos da imprensa que só tem fortalecido estes últimos. Pior: ao invés de atrair os homossexuais para o amor de Deus, temo que estamos afastando-os cada vez mais da oportunidade de conhecer a graça regeneradora e salvadora de Jesus Cristo, da qual todos (“homos”, “héteros”, “bis”, e o que quer que seja) igualmente carecem desesperadamente.
Ainda estamos muito longe, como Igreja, de um projeto de militância e de reforma social mais abrangente e integral, embasado biblicamente e alicerçado no serviço.
Como Igreja, dizemos que não somos homofóbicos, mas lamento constatar que sim, somos, apesar do velho discurso “condenamos o homossexualismo, mas amamos os homossexuais”. O fato é que tememos tudo aquilo que não entendemos bem. E está claro e notório neste episódio que a igreja não tem se aprofundado nas complexas questões ligadas à homossexualidade, pelo discurso que ainda reina de “opção” sexual (como se alguém escolhesse, num joguinho de “par ou ímpar”, se vai ser homo ou hétero), e não de “orientação” sexual, profundamente arraigada na identidade pessoal. Ou na confusão entre união civil e casamento, na incompreensão acerca do papel que um Estado laico deve ter na defesa dos direitos dos seus cidadãos (mesmo que esses não professem a mesma moralidade que eu), ou até mesmo por achar que assistir a uma novela vai tornar alguém homossexual.
Não se trata aqui de defender ou não a prática homossexual, tampouco de ignorar as influências da aceitação de determinadas práticas culturais no comportamento de indivíduos. trata-se, sim, de fazer uma análise crítica do posicionamento político da igreja brasileira nesta questão. Na minha visão, deveria ter sido a Igreja a primeira a propor (através dos seus representantes nas esferas políticas e de seus formadores de opinião) uma lei ou um movimento contra a homofobia, equilibrado e consistente. Aliás, contra qualquer forma de discriminação e violência de toda ordem contra grupos minoritários, formados por pessoas humilhadas, desprezadas, e oprimidas da nossa sociedade. Precisamos entender que a redenção na esfera política (entendida aqui como a esfera de poder e influência na sociedade) vai muito além de defender os próprios direitos e interesses, mas sim lutar pela justiça. Isso sim seria o agir de uma Igreja verdadeiramente transformadora.
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