sábado, 5 de novembro de 2011


MINHA FALA NA REUNIÃO DA CÚPULA DO G20, PARA JORNALISTAS DE DIVERSAS PARTES DO MUNDO
Cannes, 4 de novembro de 2011 "Eu moro em Recife, uma cidade do Nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do País. Lá, vemos pobreza e fome o tempo todo, até mesmo no quarteirão onde moro. É, portanto, um desafio enorme estar em uma cúpula como esta e ver que os problemas pelos quais trabalhamos não estão sendo priorizados. Como uma organização de ajuda humanitária, que atua em cem países ao redor do mundo com crianças e famílias que vivem na pobreza, a Visão Mundial tem muita esperança de que o G-20 possa, não somente intervir, mas, literalmente, salvar as vidas desses milhões de pessoas. Toda noite, 925 milhões de pessoas vão dormir com fome e, neste exato momento, na região do Chifre da África, crianças e famílias estão se esforçando para sobreviver à pior seca dos últimos 60 anos. Hoje nós estamos na glamorosa, sofisticada e linda Cannes, que contrasta fortemente com a luta desses milhões de pessoas. E o G-20 deve se lembrar disso como uma oportunidade perdida. ‘Novo mundo, novas idéias’ (slogan do G-20 2011) é um slogan oco, tendo em vista o quão pouco foi realmente realizado. As ações do G-20 sobre segurança alimentar e volatilidade dos preços precisam ser baseadas nas necessidades e nas perspectivas dos 925 milhões de pessoas famintas que não se importam com a “Tragédia Grega”: eles não vão ao teatro, mas eles têm suas próprias tragédias, as quais nós precisamos assumir e ser a voz daqueles que não têm voz. Enquanto o G-20 tem prestado pouca atenção à necessidade de apoiar os pequenos agricultores, estamos decepcionados pelo fato de que, até agora, seus esforços não terem produzido ações concretas para apoiar esses agricultores que cultivam seu próprio alimento para a subsistência de suas famílias e são parte da solução para prevenir a escassez global de alimentos. Pequenos agricultores produzem a maioria dos alimentos do mundo. A volatilidade dos preços criou o caos para os pequenos agricultores, que, ironicamente, são tanto os produtores de alimentos quanto aquela maioria que padece pela insegurança alimentar. O G-20 falhou ao não adotar medidas importantes para controlar a alta volatilidade dos preços e isso faz com que a situação de segurança alimentar piore ainda mais para essas pessoas. O encontro do G-20 representa uma oportunidade crucial para essa transformação, pois alguns desses líderes mundiais aqui reunidos têm o enorme desafio de combater a fome e a pobreza em seus próprios países. É por isso que esses temas devem constar da agenda principal da cúpula dos 20 líderes mais poderosos do mundo."

quinta-feira, 16 de junho de 2011

SOBRE O PL 122

SOBRE O PL 122
Mauricio Cunha
para:

07/06/2011 10:33
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Nos últimos tempos ficou notória a mobilização da Igreja cristã em torno do polêmico projeto de lei 122, a chamada lei da “Homofobia”. Embora o projeto traga equívocos claros e mereça ser debatido, gostaria de aproveitar esta oportunidade para fazer uma análise crítica em relação ao posicionamento e a ação da igreja evangélica (falando aqui em termos genéricos) neste episódio.

Na minha visão, é lamentável que a Igreja, que há muito tempo tem ignorado a questão da homossexualidade, suas complexidades e implicações, esteja se manifestando de forma tão veemente acerca desta questão apenas quando um dos seus direitos (no caso, da livre expressão a partir da liberdade de consciência) é ameaçado. Desta forma, a Igreja age com qualquer outro grupo na defesa dos seus direitos, não representando nenhum diferencial na arena social.

É lícito, numa democracia, um grupo manifestar-se e procurar mobilizar a sociedade em defesa da sua visão de mundo e dos seus ideais. Mas é triste perceber que toda esta capacidade de mobilização da Igreja não se dá da mesma forma em temas–chave da Reforma social e da Justiça do Reino, como pobreza, violência, corrupção, gênero, etc. A verdade é que a Igreja evangélica continua obcecada pela sexualidade e os seus “pecados”. Como exemplo, cito o fato de que recentemente, estamos tendo a discussão sobre o novo Código Florestal Brasileiro, tema de fundamental importância relacionado à mordomia da Criação e ao futuro das próximas gerações, mas onde e de que forma está a igreja cristã se mobilizando?

Como conseqüência desta tendência, assistimos a uma polarização entre os evangélicos e os movimentos GLBTT e segmentos da imprensa que só tem fortalecido estes últimos. Pior: ao invés de atrair os homossexuais para o amor de Deus, temo que estamos afastando-os cada vez mais da oportunidade de conhecer a graça regeneradora e salvadora de Jesus Cristo, da qual todos (“homos”, “héteros”, “bis”, e o que quer que seja) igualmente carecem desesperadamente.

Ainda estamos muito longe, como Igreja, de um projeto de militância e de reforma social mais abrangente e integral, embasado biblicamente e alicerçado no serviço.

Como Igreja, dizemos que não somos homofóbicos, mas lamento constatar que sim, somos, apesar do velho discurso “condenamos o homossexualismo, mas amamos os homossexuais”. O fato é que tememos tudo aquilo que não entendemos bem. E está claro e notório neste episódio que a igreja não tem se aprofundado nas complexas questões ligadas à homossexualidade, pelo discurso que ainda reina de “opção” sexual (como se alguém escolhesse, num joguinho de “par ou ímpar”, se vai ser homo ou hétero), e não de “orientação” sexual, profundamente arraigada na identidade pessoal. Ou na confusão entre união civil e casamento, na incompreensão acerca do papel que um Estado laico deve ter na defesa dos direitos dos seus cidadãos (mesmo que esses não professem a mesma moralidade que eu), ou até mesmo por achar que assistir a uma novela vai tornar alguém homossexual.

Não se trata aqui de defender ou não a prática homossexual, tampouco de ignorar as influências da aceitação de determinadas práticas culturais no comportamento de indivíduos. trata-se, sim, de fazer uma análise crítica do posicionamento político da igreja brasileira nesta questão. Na minha visão, deveria ter sido a Igreja a primeira a propor (através dos seus representantes nas esferas políticas e de seus formadores de opinião) uma lei ou um movimento contra a homofobia, equilibrado e consistente. Aliás, contra qualquer forma de discriminação e violência de toda ordem contra grupos minoritários, formados por pessoas humilhadas, desprezadas, e oprimidas da nossa sociedade. Precisamos entender que a redenção na esfera política (entendida aqui como a esfera de poder e influência na sociedade) vai muito além de defender os próprios direitos e interesses, mas sim lutar pela justiça. Isso sim seria o agir de uma Igreja verdadeiramente transformadora.


domingo, 8 de maio de 2011

Os livros que eu estou lendo

Rios de Água Viva, de Richard Foster

Foster (o mesmo autor do clássico "Celebração da Disciplina") surpreende com uma brilhante narrativa histórica e teológica das diveras tradições da fé cristã.
A leitura sobre as diferentes escolas permite um conhecimento amplo do agir redentor de Deus na História, abrindo o coração e a mente para Sua multiforme sabedoria e criatividade. Este tipo de leitura ajuda-nos a contemplar a diversidade e a grandeza da obra de Deus, tornando-nos mais tolerantes à diversidade e ao ecumennismo cristão. Isso nos reafirma que ninguém jamais foi capaz de ter e entender a plenitude da revelação divina, por isso precisamos estar constantemente abertos à vida de Deus no próximo e ao agir do Espírito, este sim, completo, pleno e suficiente.
As seis tradições são:
- Tradição contemplativa: descobrindo a vida de oração plena
- Tradição de santidade: descobrindo a vida virtuosa
- Tradição carismática: descobrindo a vida no poder do Espírito
- Tradição de justiça social: descobrindo a vida compassiva
- Tradição evangelical: descobrindo a vida centrada na Palavra
- Tradição sacramental: descobrindo a vida sacramental
Para cada tradição, Foster faz um resgate histórico, exemplificando com a biografia de uma santo, um personagem bíblico de referência e uma inspiração contemporânea, apontando as fortalezas e perigos daquela ênfase.

Ao final do livro, o autor aponta os principais fatos e as figuras notáveis e os movimentos mais significativos na história da Igreja.

Um verdadeiro banquete sobre a nossa herança!

Políticas de Deus e Políticas dos Homens, de Jacques Ellul

Jacques Ellul analisa exaustivamente os personagens do segundo livro de Reis, para, à luz da História de Israel, brilhantemente refletir com profundidade sobre a tensão liberdade de Deus X liberdade humana.