terça-feira, 1 de junho de 2010

"o Criador do homem tornou-se homem para que ele, o governante das estrelas, pudesse mamar no peito de sua mãe; para que o Pão pudesse ter fome, a Fonte, sede; para que a Luz dormisse, o Caminho ficasse cansado em sua caminhada, para que a Verdade pudesse se acusada de falso testemunho, o Mestre fosse açoitado com chicotes, o Fundamento fosse elevado sobre o lenho, a Força enfraquecesse, o Médico fosse ferido; para que a Vida pudesse morrer"
Agostinho


Ele

Recolheu as minhas lágrimas num odre
Contou-as todas
Regou com elas as sementes de vida, dormentes
Que Ele mesmo havia plantado
Não há lágrima vã em Seu odre
Não há semente que não precise ser regada
Mauricio Cunha
Maio/2010



Os lugares da minha vida
...desfrutar da Jornada é melhor do que a chegada

Curitiba, lugar da infância feliz e da juventude, dos muitos amigos, marco inicial e principal da minha história. A cidade organizada, ordenada, que fundamenta e constrói. Lugar dos estudos, das primeiras descobertas, de proteção, cuidado e aconchego nas tardes frias e cinzentas. Sempre um porto seguro, um farol indicando o lugar de regresso. Em Curitiba o pilar da vida foi edificado.
Rio de Janeiro, o lugar do meu nascimento, das férias felizes em companhia dos primos, tios e avós. Lugar da aventura, da irreverência, da beleza. Lugar desejado, de beleza indescritível, que emociona, faz sonhar, aviva, alegra, intensifica. É onde sempre quero chegar, e ficar um tempo. Parece que ali a vida pulsa um pouco mais forte.
Angra dos Reis, o lugar onde vivi talvez os momentos mais difíceis, mas os mais intensos. Neste solo foram semeadas algumas das mais fortes amizades da minha vida. Angra esta marcada no meu coração com boas lembranças e saudades, em meio às lutas e conquistas que trouxe. Cenário de formação e aperfeiçoamento do caráter, altar erguido do primeiro encontro com Deus. O que Angra edificou, muitos outros lugares colheram.
Fazenda Rio Grande, lugar de grande realização, fé, serviço e coragem. Este é o lugar da minha herança, a minha grande escola, para sempre. Aqui foi onde a vida fluiu com mais força e determinação. Aqui aprendi a servir e amar o próximo como eu nenhum outro local. Este é o local pelo qual dei tudo de mim. É o lugar da mais pura felicidade singela, meiga, suave. Lugar da simplicidade, do povo humilde, dos amigos que permanecerão, onde nasceu a minha nova família e a plataforma para o mundo. Lugar que gerou meus filhos, da carne e do coração, e realizou sonhos. Lugar de batalhas travadas, choro derramado, mas muitos e muitos sorrisos. Este lugar deixou uma cicatriz de beleza e fé que nunca será apagada. Será impossível esquecer este lugar.
Recife, lugar do recomeço, do “novo” que surpreende e alegra. Recife charmoso e belo, feliz, meio bagunçado, desarrumado e cantante. Da natureza exuberante, que convida e abraça. A nossa casa, acolhedora, berço de uma nova esperança.

Belo Horizonte, lugar do meu destino, sempre perto, papel protagonista na minha história. Lugar do recato e da singeleza, dos fortes laços de amigos, a segunda casa no Brasil. Todas as encruzilhadas da minha vida foram ali definidas, verdadeiro farol de direção.
Gramado, lugar da lua de mel cheia de amor e realização, do romantismo, da rara beleza européia. Aconchego e ternura.
Penha (SC), lugar de doces momentos em família curtindo a praia, o descanso, a Paz. Celeiro de orações sempre respondidas. Refúgio de tranquilidade e renovação.
Cidade do Cabo, Stellenbosch, Pretoria, Johannesburg, Cabo da Boa Esperança (África do Sul), lugares de surpreendente beleza, charme europeu com alma africana, ponto de encontro das raças e credos, desafio à diversidade da nossa condição.
João Pessoa, lugar que, no coração e na alma, me abriu as portas do nordeste, novas oportunidades nascidas de sonhos que se descortinam num ambiente de doce e tranqüila beleza. Uma delícia.

Melbourne e Sydney, Austrália, lugares que beiram a perfeição, de uma impressionante pujança e beleza. Um ocidente no oriente, com um racionalismo mais “relaxado” a hospitaleiro, mescla de povos e abundante cosmopolitismo. Quase não volto pra casa depois de Sydney.
Lubango e Benguela (Angola), lugares do contato mais profundo com a alma negra da África subsaariana, do encontro com os refugiados e as conseqüências da guerra. Apesar do coração que sangra, este lugar trouxe terna alegria no sorriso e no abraço de cada angolano, na esperança dos mutilados das minas, na riqueza que brota do nada.
Fez e Marraquesh (Marrocos), lugares de inigualável encantamento, exotismo e força. Um intrigante magnetismo que faz os olhos brilharem, aguça a curiosidade, entorpece e inspira. Mistério e riqueza cultural fervilham em ruelas antigas entre as muralhas milenares. Dentre todos, não há lugar mais fascinante.
Burkina Faso, lugar da dor da humanidade esquecida e desprezada, de uma dignidade quebrada. No coração do Sahel africano, remoto e distante, da pobreza na face mais crua e cruel, do sentimento de total abandono. Mas também o lugar de uma singela esperança e inexplicável tranqüilidade, que nascem da força dos que ainda lutam por transformação e que estão escondidas nos tão belos sorrisos do povo do “país dos homens íntegros”.
Estados Unidos, Texas, Miami, São Francisco, Nova York, Washington, Los Angeles, Chicago, Ohio, lugar do crescimento pessoal e profissional, da preparação. Organizado, pragmático, fácil, funcional. Cordial, mas distante. Poderoso, forte, evoca fé, orgulho e grandeza, ao mesmo tempo que traz familiaridade e proteção. Se tenho uma segunda casa em termos de nação, certamente é aqui. Lugar que sempre chama de volta.
Hawaii, lugar da aventura, da beleza e do desafio. Praias exuberantes, montanhas e vulcões “regados” ao conveniente conforto americano. Ótima combinação! Este lugar é o presente que Deus me deu quatro vezes. Graça quadruplicada, a mais abundante graça (favor imerecido).
Barcelona, lugar da direção que parte da dor e da riqueza do encontro com a Humanidade. Em Barcelona senti o dolorido coração de Deus batendo mais de perto, quase audível. Barcelona me descortinou o mundo de uma maneira nua, me apontando os caminhos e escolhas a trilhar. Lugar da emoção de um novo degrau a subir na Jornada.
Israel, lugar da Verdade, palco onde Deus escreveu o Seu roteiro e contracenou conosco.
Egito, lugar exótico que fascina, contraste dos véus negros, islâmicos, que esvoaçam em paisagens pagãs milenares, do trânsito caótico do Cairo em contraste com o Nilo que mansamente cumpre o seu destino. É preciso voltar lá.
Romênia, lugar conquistado, de aprendizado, da maturidade que tem que se impor para dar seguimento à Jornada da Vida. Drama de um comunismo caído e que deixou um legado de morte e tristeza. Alegria e esperança que sorrateiramente conspiram contra a morte.
Índia, lugar da quebra de paradigmas e das descobertas que nascem do exotismo e das cores que anunciam as boas-vindas de um povo simples, pacífico e feliz. Lugar de uma outra história, uma outra humanidade ate então por mim desconhecida. A vida é isso, construir paradigmas que confiram sentido à vida, para depois quebrá-los todos.
Comunidades ribeirinhas do Rio Purus, lugar do exercício mais “nu e cru” de uma Missão, espaço do nascimento de um sonho. Apesar do sofrimento físico e das “gracinhas do Purus” (os mosquitos), este lugar deixou saudades. Aqui, no puro e direto contato com a natureza, conheci o drama mais humano das comunidades ribeirinhas, e deste drama brotou a concretização da minha missão.
Paris, lugar de charme e requinte indescritíveis, o mais fino glamour em forma de varandas com parapeitos de ferro decorado e vasinhos de flor nas janelas. Lugar onde a História resolveu fazer morada e construir os caminhos da Humanidade. Cidade-luz, ilumina o rosto e a alma.
Roma, lugar Eterno, uma overdose de História! Eis a cidade que ditou os caminhos da humanidade. Em Roma se desenhou a vida, o real. Não se passa indiferente por ela. Andei por Roma como alguém que descobre a própria vida e reconstitui a História. Fascínio total expresso em ruínas e obras de arte.
Veneza, lugar de raríssima beleza e encantamento, cidade-museu, densa história de apogeu, glória e declínio. Águas e canais que nutrem os casaredos e praças como artérias que levam a vida. O rústico na sua forma mais bela e surpreendente.
Haiti, apesar de toda a pobreza, lugar de grande realização. Nos poucos dias em que ali fiquei, exerci a mais pura essência da minha vocação. Lugar de uma dor profundamente marcada na História, de um enredo que deveria ter sido contado de maneira diferente. O meu mais profundo respeito por este país e pelo povo haitiano.
Bangkok, mistura de China, Índia e Indochina, encontro da Velha e da Nova Ásia, burburinho nas ruas com aroma constante da comida mais gostosa do mundo, regada a uma atmosfera pecaminosa de uma Tailândia que é e sempre foi livre.
Phnom Penh, Camboja, lugar surpreendente, povo amigável de alma pura budista, verdadeiros heróis de sobrevivência. Esperança e cordialidade vencendo aos poucos as cicatrizes e a frieza de um khmer vermelho que morreu.
Rio São Francisco, o charme rústico totalmente surpreendente de Piranhas (AL), os passeios de catamarã vislumbrando e vegetação do sertão, os mergulhos nos maravilhosos canyons perto de Canindé (SE), a riqueza histórica e cultural de Penedo (AL), as águas cristalinas, as dunas na sua belíssima foz, as praias de Piaçabuçu (AL).......o que dizer do Velho Chico? Não há rio como esse, inspiração e essência da alma bem brasileira.
Nova York, ícone da modernidade e do capitalismo, Ponto de Encontro das nações, capital do mundo. Vida que pulsa em meio aos prédios amarronzados e descortina um dos mais belos capítulos da história humana.
Vancouver, lugar onde as engenhosidades humana e divina e sua capacidade de produzir beleza se encontram como em nenhum outro!
Foz do Igraçu, grande encontro da energia das águas, dos povos e da natureza. Pontinho privilegiado nas entranhas da América do Sul.

E tantos outros lugares, como Lima, Quito, Santiago, Buenos Aires, Montevideo, Lisboa, Londres, México, Dubai, Manila, Kuala Lumpur (Malásia), Maputo (Moçambique), Dakar (Senegal), Hong Kong, Atenas, Florença, Turim, cada qual com o seu pequeno legado, as suas memórias e as emoções deixadas na história deste peregrino, cidadão do mundo.

Livros que estou lendo
Homens e Caranguejos, de Josué de Castro

Um instigante e contundente relato da vida dos retirantes da seca que migraram para o Recife e sobrevivem da pesca de caranguejos dos mangues do Rio Capibaribe. Realismo puro, denúncia social, feita pelo nosso grande médico, professor e escritor Josué de Castro . Recomendado para aqueles que amam o nordeste e o Recife.

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